terça-feira, novembro 15, 2022

Autodestruição

Porque leva o amor, a ter comportamentos que parecem autodestrutivos? Que sabemos que nos vão fazer sofrer, mas que mesmo assim sentimos algum grau de satisfação em os assumir?

Deixamo-nos levar por um sentimento maior de entrega, sem olhar ao nosso bem-estar, às nossas necessidades, às nossas vontades. Como se antecipássemos a nossa própria destruição como ser individual e a nos sacrificássemos a um outro indivíduo, na direção de uma morte social, com a perda de autoestima.

Levam-nos a um isolamento de sentimentos, que ficam dentro de nós, levando-nos a processos de autopunição, autoculpabilidade e em última instância a uma negação do EU existente no mundo. 


O caminho para a autodestruição é não se saber impor. 


sábado, novembro 12, 2022

Saudade é a tristeza que fica em nós

Recentemente vi uma pequena passagem do livro de Sophia de Mello Breyner Andresen, a Menina do Mar que dizia assim: "- Mas o que é a saudade? - perguntou a Menina do Mar. - A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora."


Tenho saudades do que tínhamos antes de Abril.

Tenho saudades de viver feliz, nessa ignorância do que podiam ser os verdadeiros sentimentos que tinhas por mim.

Tenho saudades de te abraçar só porque sim, por que te amo, sem a necessidade de "verificar" se ainda estás comigo.

Tenho saudades de sentir a segurança de te ter perto de mim, sem ter que estar a fazer um esforço para a fazer sentir dentro de mim, tornando-a artificial.


Tenho saudades de ti. porque te perdi.

quinta-feira, novembro 10, 2022

Silêncio

Alguns de nós, consideram que o silêncio pode ser a melhor estratégia para se enfrentar assuntos mais sensíveis, que possam levar a alguma discussão. Consegue-se perceber na postura, nos suspiros, nas palavras não ditas, uma certa angústia no que não é dito, talvez com ideia de não ferir.

Ora, na minha visão da vida, tudo o que é sentido deve ser exteriorizado. Deve ver essa luz da vida, para que não fique nas sombras do nosso íntimo a assombrar-nos.

Há maior sofrimento contínuo no que fica por dizer, do que o que é dito e só faz sofrer nesse momento.

Há quem faça promessas de honestidade, de se mostrar verdadeiro consigo próprio, no fundo, e acaba por diariamente falhar nesse compromisso. E esse sim, é um silêncio que faz sofrer, por essas palavras não ditas, que levantam dúvida, suspeita, sobre sentimentos não revelados e que nos fazem pensar na dimensão e importância dos mesmos.


Shiu


quarta-feira, novembro 09, 2022

Tu amas-te?

Curioso que na nossa vida diária vão surgindo, aquilo que parecem mensagens, que nos ajudam a clarificar os nossos pensamentos e vivências. Como se no mundo houvesse uma ligação entre todas as pessoas e as ideias fluíssem de uns para os outros, ajudando numa reflexão colectiva as nossas dúvidas, receios, anseios.


Há uns dias, perguntavas-me, qual tinha sido o melhor momento para mim no nosso fim de semana. Disse-te com naturalidade que tinha sido quando estávamos a beber o nosso licor de fim de dia, após as crianças adormecerem e em que voltei a ver paixão verdadeira no teu olhar. Acreditei de novo, que nesse momento era por mim. 

Quero tanto reencontrar-te. Dissipar todas as minhas dúvidas. Afastar de mim qualquer sentimento de desconfiança. Mas assola-me e desgasta-me este sentimento de incerteza dos verdadeiros sentimentos que possas ter por mim.

Perguntei-te de seguida se me amavas. Respondeste imediatamente que sim, "amo-te". 

Perguntei-te a seguir se te amavas? Hesitaste. Que tentavas fazê-lo, que seria mais fácil amar-me. 

Disse-te nesse momento que então não me amavas verdadeiramente. Porque para me amares, com a força do amor que sinto por ti, terias que te amar com esse mesmo amor. Tu, que és a força e poder desse amor.

Respondeste que afinal me amavas mais do que imaginavas e que eu te ensinava a amares-te.


E é aqui que entra essa corrente fluídas de pensamentos. Eis que uma figura pública, e que faz dessa condição um instrumento para evangelizar (à sua maneira), veio completar esta ideia de amor próprio que aumenta o nosso amor pelo próximo. Só é possível amar se nos amarmos a nós primeiro.


«Estou enamorado de alguém que lhe sou o suficiente, que me abraça e que me eleva a autoestima, que reconhece o meu valor e me diz que não necessito de ninguém mais para ser feliz, porque nos temos um ao outro. Esse alguém ensinou-me a perdoar e a perdoar-me.
Apaixonei-me, mas desta vez é diferente, porque me fez entender que mereço o melhor do melhor e não menos. Que um amor com dúvidas e inseguranças não é amor. Apaixonei-me por alguém que crê em mim, sem que se importe pelas vezes que eu tropece, porque sabe que depois das quedas com mais força me levanto. Enamorei-me de alguém que me dá paz e segurança. Que é capaz de dar tudo por mim, que me ama sempre e não aos poucos.
Esse alguém envolve-me com os seus braços e entende que, apesar dos meus dias escuros e do caos que levo dentro, essa pessoa não sai a correr, mas fica e acompanha-me nos momentos de solidão. Esse alguém, quando me vê, os seus olhos brilham e refletem o quanto se sente feliz em me ter. Desde que nos descobrimos, não passamos um momento sem que não estejamos juntos e acompanha-me aos meus lugares favoritos e desfrutamos da companhia um do outro. Sim, estou deveras apaixonado! E ainda até há pouco tempo isto parecia impossível.
Hoje, eu amo essa pessoa, mas amo de verdade. Tornou-se a minha pessoa favorita. Voltei a apaixonar-me… mas desta vez por MIM! E hoje sei que sou o amor da minha vida. Não deixes nunca de ser o amor da tua vida nem de te apaixonares todos os dias por ti, só assim poderás estar de coração feliz e recetivo para amar os demais. Ama-te para amares.
»
Pe Ricardo Esteves


Ama-te para amares



1 minuto

 Não há 1 minuto que não pense em ti. Dominas por completo todos os meus pensamentos, todos os momentos da minha vida. 

Como fiquei tão obcecado por ti? Como me deixei levar por esta dependência que me faz sofrer, nos momentos em que cada minuto preciso sentir que ainda me desejas?

É essa incerteza que me destrói, como lança que me trespassa o coração e me mata interiormente. Não basta que me digas ocasionalmente que me amas. Não basta que me desejes sentir dentro de ti. Preciso da segurança de em cada minuto te sentir minha e só minha, nesse paradoxo de te imaginar livre e ao mesmo tempo te querer tanto só para mim.

É essa tua liberdade que me encanta e me deixa feliz, por alcançares finalmente quem és e quem sempre desejaste ser. 

É essa tua liberdade que me deixa inseguro, na possibilidade de já não ter lugar em ti, pelo teu desejo maior de quereres algo novo, diferente e melhor.

Sinto-me impotente de te dar mais e melhor. E pelo amor que a cada minuto sinto por ti, te deixar livre para seguires os teus desejos. Ainda que possam significar que perderei cada minuto de ti.


Adoro cada minuto da tua liberdade



quinta-feira, novembro 03, 2022

Triângulo

 Como me tornei tão cego, pelo amor que sinto por ti?

Como não percebi que o que sentes por mim, não é mais que um afecto que te deixa segura, que te dá conforto, mas é um sentimento mais forte por outro que te dá vida. Que te dá um sentimento de aventura e desafio que gostas se sentir e viver.

Um perfeito triângulo de sentimentos, em que eu me entreguei completamente a ti, sem reservas, numa atitude até de servidão. E tu com uma necessidade de total entrega a ele, com as tuas dúvidas e receios de quem não quer perder tudo.

A ele, que se encontra distante, tão longe quanto se possa estar, numa perfeita ignorância de ti, mas que te deixa com um desejo louco de estar com ele.

E vivo. Vivo com o sentimento que sempre guardei para mim, de um sofrimento interior que me consome e me vai destruindo aos poucos, até nada mais sobrar do que é meu, de respeito e amor próprio.



«O triângulo amoroso – essa figura geométrica geradora de emoções frequentemente dolorosas (ciúme, sentimento de culpabilidade, sentimento de ser um traidor, baixa de auto-estima, etc)- se o imaginarmos encenado, inclui 3 personagens:

O Traidor

Este actor é “aparentemente” o que decide implicar-se nesta configuração. Trata-se de uma alma dividida, à procura de integração. Uma situação difícil a afrontar mesmo se à superfície o Traidor professa o liberalismo. Raramente o ouviremos dizer “Sinto-me dividido”, muitas das vezes justificando o seu acto queixando-se do seu parceiro (a)… nomeadamente à pessoa com a qual consome a traição.

Pode, a título de exemplo, fugir de um parceiro(a) cujas necessidades emocionais considera asfixiantes, esforçando-se por não ver que, na realidade, o seu parceiro é o espelho da sua própria dificuldade em defrontar a solidão… ou o espelho de partes de si sub-desenvolvidas que precisam de crescer.

A Pessoa Traída

É “aparentemente” a pessoa que não consente mas pode levantar-se a questão da conivência inconsciente. A Pessoa Traída está em princípio persuadida de ser leal. É portanto dela que se espera a expressão de dor, de ciúme e de humilhação… o que, na realidade, pode não ser completamente verdadeiro. Pode dar-se o caso de que este personagem, tal como os dois outros, tenha em si próprio uma faceta de si que”trai”: por exemplo a sua integridade, a honestidade consigo mesma ou a honestidade em relação ao seu parceiro(a). Como ela é “passiva” no triângulo, o fenómeno é não consciente e só quando “vir” a traição é que terá a oportunidade de se tornar consciente disso.

O Instrumento da Traição: a Terceira Pessoa (TP)

Geralmente considerado como o Predador, este personagem é o instrumento da traição e o mau da fita, sobretudo para aqueles que constituem um casal e que receiam pelo seu futuro.

A Terceira Pessoa pode, por seu turno, ser traída pelo Traidor que pode “virar a casaca” deixando de proferir frases encorajantes como “Não há mais nada entre mim e ele(a); Já não suporto mais isto ou aquilo”, justificativas da existência do papel da Terceira Pessoa.

A armadilha para a Terceira Pessoa consiste em desvalorizar a importância da ligação já existente. Este processo ingénuo acarreta então a desilusão e o sofrimento no dia em que a Terceira Pessoa descobre que afinal a ligação do amado com o cônjuge não desejado é mais forte do que o Traidor – e a Terceira Pessoa – queriam admitir.

TP torna-se então instrumento de manipulação e é instrumentado(a) para resolver a crise entre os dois parceiros, Traidor e Pessoa Traída.


Nos triângulos amorosos há fortes possibilidades de todos saírem magoados e todos perderão de alguma forma. O Traidor acaba por escolher, perdendo ao mesmo tempo que ganha alguma coisa. A vitória é amarga para a Pessoa Traída porque ela vai recuperar um parceiro extraviado. Se é a Terceira Pessoa que ganha a batalha, ela conduziu alguém a fazer uma escolha dolorosa o que pode acarretar sofrimento e ressentimento.

(do Blog Au Royaume Amoureux)»


Nos triângulos amorosos há fortes possibilidades de todos saírem magoados e todos perderão de alguma forma.

segunda-feira, maio 09, 2022

Tóxico

 "Senhor, afasta de mim este cálice"

Porque somos assim? Porque gostamos de sofrer por amor, por paixão? Porque nos permitimos aguardar por um sinal que seja, de alguém que na sua "superioridade" não se digna a corresponder aos nossos desejos?

Porque o sentimento de angústia nos mantém vigilantes, tal como o medo primitivo nos mantinha em alerta para nos preparar para as dificuldades diárias.

Talvez, porque os poetas descrevem o amor como uma insatisfação constante, um lume que arde e nos queima, um contentamento descontente.

A ausência do medo, relaxa-nos, deixa-nos acomodados, torna-nos seguros de nós, auto-confiantes, mas não nos dá vida. Não nos dá a emoção da angústia desesperante que nos faz sentir que ainda não morremos, que estamos na vida para lutar.

Já todos passámos pelo mesmo. Desde os nossos namoricos de infância ou adolescência, na necessidade constante de correspondência, quando por tantas vezes, do outro lado estava um ser que parecia ora tão atencioso, carinhoso, ora insensível e cruel. Mas só a chama do poder sequer olhar de novo para nós, nos deixava pendurados a esta existência amargosa de sofrimento "por amor".

Não há resposta para este tipo de sofrimento. Unicamente sofrer até cansar, para depois já não sofrer mais. Afasta de mim este cálice? Sim, mas deixa-me sofrer um pouco mais, porque gosto.

Amantium irae amoris integratio est